Abril
Havia uma lua de prata e sangue em cada mão.
Era Abril .
Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto das mães cansadas.
Era Abril que descia aos tropeções pelas ladeiras da cidade.
Abril tingindo de perfume os hospitais
e colando um verso branco em cada farda.
Era Abril o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.
Abril um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos azuis
um mês de flores
um mês.
Havia barcos a voltar
de parte nenhuma
em Abril e homens que escavavam a terra
em busca da vertical.
Ardiam as palavras
Nesse mês
e foram vistos
dicionários a voar
e mulheres que se despiam abraçandoa pele das oliveiras.
Era Abril que veio e que partiu.
Abril a deixar sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver.
José Fanha
terça-feira, abril 24, 2007
Abril
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