quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Diz o Helder, no seu último post do " Mais, sempre mais!!!" :

"...Ficam recordações de cheiros, sons, vozes, falares, cores, do fim do asfalto, do espaço, do horizonte avermelhado ao fim da tarde, dourado ao princípio do dia, dos pequenos amigos de infância de calções sem cor, numa terra a crescer mais depressa que nós para um destino que ninguém poderá prever. (...)"

Assim começa também "A cabeça de Salomé" de Ana Paula Tavares:

"Acordámos numa manhã de erva-doce e tamarindos e, enquanto a noite se decompunha sobre o mar, preparámos o corpo para a viagem. Água perfumada, óleos essenciais, a roupa dos dias claros..."

Não podem negar que é a Terra Vermelha que faz a ligação entre eles! Os mesmos cheiros, as mesmas cores, as mesmas águas...
Em resumo: a mesma vivência -- África!

" (...) Por fora, chão vermelho acendem-se de acácias que interrompem o verde lento das mangueiras carregadas de mangas e enxames de miúdos.
As crianças praticam os dias, escrevendo a luz em asas de pássaros e cantam a vida, com os seus voos felizes e a alma grande abalada para o céu. (...)
As mães carregam belos panos e olhos tristes, rasgados de palavras por dizer. A terra morta abre-se ao som encorpado dos nomes: Cuílo, Camaxilo, Tchiboko, Alto Tchicapa. Memória de florestas antigas deixa antever as rotas da borracha, da cera e do marfim.
O canto dos escravos e dos contratados ficou gravado no eco das montanhas e nas tatuagens antigas que marcam rostos de seda vidrados pelo tempo."

* "A cabeça de Salomé" -- de Ana Paula Tavares --

Os cheiros, as cores, a Terra -- sempre aquela terra, vermelha, comum a todos que dela guardam os cheiros!

2 comentários:

Anónimo disse...

Aquela terra vermelha é mais do que pequenos grãos de areia tintada de ferro.
É lar, é alma, é cântico, é serenidade milenar.
Essa terra pode ser escavada, desventrada, violada por desmiolados, casas, ideais e sonhos podem cair desmoronados, por baixo, estará sempre a mãe-terra vermelha.
hs

Anónimo disse...

Aquela terra vermelha pintada de negro pelas queimadas perfumada pelas primeiras chuvas era a terra dos primeiros rebentos de capim que ja nenhum animal come pois o homem extinguiu-os. Pena que só fique a terra sem ninguém para lhe dar existencia. Sim porque se ninguém a vir pois não existe