Faz tempo que aqui não venho...o trabalho apertou, e lá ficou este meu cantinho abandonado. Não que me esqueça dele: não!, quantas coisas ao longo dos dias me passam pela mente, desejando vir aqui desabafar...
Hoje por acaso, fui trabalhar mas, não tive clientes -- a época não está famosa no comércio tradicional. Daí que me tivesse debruçado sobre um livro do Gabriel Garcia Márquez que por lá andava abandonado numa das gavetas, para passar o tempo.
Sinceramente, este seu livro: "Memória das minhas putas tristes" -- talvez devido ao título -- nunca me tinha suscitado interesse. É que, para tristezas e ainda por cima...dessas: não me achava atraída.
Enganei-me!
Talvez por ser pequeno, hoje peguei nele e -- curioso -- desde o princípio não mais o larguei!
Falando do personagem ( sinceramente acho que se retrata...), cronista octogenário dominical diz:
<< Nunca fez outra coisa na vida a não ser escrever>>.
Acrescenta porém:
<< ...Mas não tenho vocação nem mérito de narrador, ignoro por completo as leis da composição dramática, e se me meti nisto é porque "confio na luz do muito que li na vida.>>
Tem partes hilariantes, apesar de tudo, pois encerra uma vida de solidão que, apenas aos 90 anos conhece o amor. Solidão esta, vivida num frenesim de lençóis mas...solidão!
Bem, o livro já tem algum tempinho, por isso já devem saber a história...se não, estão a tempo de o fazerem -- é bom e recomendo!
É um passar de vidas, encontros e desencontros. Já bem avançado na estrada da vida, tenta obter o que afinal sempre teve junto de si...
<< Nunca me apaixonei>>
Diz às tantas, dirigindo-se a Damasia -- que sempre viveu junto dele.
Ao que esta lhe responde: << Eu sim. Chorei 22 anos pelo senhor>>.
<< Teríamos sido um par feliz >> -- responde o octogenário.
<< Pois faz mal em dizer-me agora, porque já não me serve nem de consolo. O senhor não vai acreditar mas, continuo a ser virgem, graças a Deus>>.
E é por esta última frase de Damiana, que eu digo que, sempre teve junto a ele o que agora aos 90 anos tanto procurava!
O que mais me comoveu nesta cena foi quando depois desta última deixa, entra em casa e descobre que Damiana tinha deixado jarras com rosas vermelhas por toda a casa e um cartão na almofada: << Desejo-lhe que chegue aos cem >>.
A história não se move em volta de Damiana mas...eu sou realmente uma lírica como alguns amigos me chamam -- por isso senti este assunto muito mais importante do que a procura de amor numa virgem de quinze anos.
Enfim, maneiras de sentir, e de ler também!